A simplicidade do olhar pela fé

Na leitura que temos feito das cartas do Apóstolo João algo que impressiona é a simplicidade com a qual ele consegue abordar assuntos de profunda complexidade, tais como a Trindade, a encarnação de Cristo e a vida eterna.
“Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus. ” I João 5:13
Já avançado em anos, residente numa província distante de sua querida Jerusalém, mais de 60 anos após a morte e a ressurreição de Cristo, encontramos João disposto a enfrentar hereges e a reafirmar o que viu, tocou, sentiu e contemplou, Deus encarnado, loucura para os homens, sabedoria divina – I João 1:1-2 com I Coríntios 1:25.
“Complexidade do pensamento, simplicidade do olhar. Complexidade das causas, simplicidade da presença. Complexidade do real, simplicidade do ser. O contrário do simples não é o complexo, mas o falso. ” *
A simplicidade no homem não nega a consciência ou o pensamento. Justamente ao contrário, a simplicidade é reconhecida por sua capacidade de ir além de ambos, libertar-se, não se deixar enganar e nem ser aprisionada por estes.
A simplicidade é um antídoto à inteligência que se envaidece e se perde em si, perdendo assim o contato com a realidade, pois passa a se dar demasiada importância, chegando à dissimulação quando põe obstáculos àquilo mesmo que pretende revelar ou desvelar – o discurso monocrático e árido dos que se veem como mais sábios que os outros.
Pois o Apóstolo João, em sua luta contra a heresia dos gnósticos, prova que a inteligência é a arte de reduzir o mais complexo ao mais simples. Esse princípio virtuoso permitia que as pessoas se sentissem à vontade com ele. Nessa disposição à proximidade se encontra o que vai ao gosto de seres humanos e de Deus: “encontrar almas que não se ocupem de si mesmas, como que sempre ao espelho para se comporem.Tudo é simples para Deus, tudo é divino para os simples” *
“A simplicidade é esquecimento de si, de seu orgulho e de seu medo: é quietude contra a inquietude, alegria contra a preocupação, ligeireza contra seriedade, espontaneidade contra reflexão, amor contra amor-próprio, verdade contra pretensão. É a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. ” *
A fé é o único caminho possível para alcançar a plenitude em Cristo. A razão se soma à fé unicamente para que possamos compreender o que realmente Jesus ensinou, mostrou e vivenciou, para além das brumas criadas por instituições religiosas ou pela cultura, seja por fazerem uma leitura superficial ou mesmo mal-intencionada da Palavra.
O que João quer nos mostrar, ele que presenciou tudo e demorou muitos anos para conseguir sistematizar o que testemunhou, é: siga a fé e nisso encontre a vida eterna, que já se inicia no momento de sua experiência pessoal com Deus, quando a salvação é pedida e concedida.
* COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes, p. 164. São Paulo: Martins Fontes, 1995. Luciano Sathler Professor de Escola Dominical Membro na IM Central em Santo André