Carro: benção ou maldição? • parte 1

““Ouça conselhos e aceite instruções, e acabará sendo sábio.” - Provérbios 19:20

Nos cursos de finanças pessoais que ministro e nas várias conversas que já tive com pessoas e famílias a respeito de suas finanças, um assunto sempre “polêmico” é o que envolve CARRO.
Na sociedade moderna, uma pessoa ou família sem carro é considerada quase que incompleta! Para muitos, dá a sensação de que pessoas sem carro “ainda não chegaram lá”, ou que devem ter muito mais dificuldade na vida, ao necessitar se locomover pela cidade. Ou ainda, que estão à mercê de eventuais emergências, pois, caso aconteça algo urgente, a falta de um carro poderia ser um grande problema!
O que percebo é que muitas pessoas e famílias possuem carros, apenas por ter. Não possuem necessariamente uma NECESSIDADE. Possuem, apenas porque todo mundo possui também. Possuem, porque a “parcelinha do financiamento” é pequena e não assusta. Possuem, porque não chegam a pensar se existem alternativas para se locomover pela cidade, a não ser utilizando um carro.
Há mais de 10 anos atrás, assim que comecei a trabalhar em um grande banco, agi como muitos jovens atualmente: entrei num financiamento de veículo! Comecei a ganhar R$ 1.400,00 bruto, e pensei que uma parcelinha de cerca de R$ 400,00 por mês num carrinho não atrapalharia meu orçamento.
Assim que cheguei em casa, fui fazer as contas: dos R$ 1.400,00 bruto que eu recebia, entraria na minha conta pouco mais de R$ 1.100,00 (por causa dos descontos e previdência). Como meu prédio não tinha estacionamento, precisaria pagar R$ 200,00 em um próximo de casa. Além disso, o seguro também sairia por volta dos R$ 200,00. E para usar o carro, precisava ainda colocar combustível, mais ou menos uns R$ 200,00 também. Sem contar o licenciamento, IPVA, eventuais multas, manutenção e necessidade de reparos no carro, etc.
Ou seja, a pequena parcelinha de R$ 400,00, unida ao que chamamos de GASTOS FANTASMAS, consumiria praticamente todo o meu salário. Ainda no 1º mês de compra do carro, consegui me desfazer da dívida e sobreviver.
GASTOS FANTASMAS
Vejo que muitas pessoas cometem os mesmos erros que cometi na época. Não é difícil encontrar pessoas e famílias passando por graves crises financeiras, em grande parte causadas pelos GASTOS FANTASMAS que o carro gera, sem que se deem conta disso.
Gastos fantasmas são os gastos que geralmente não são considerados como “relevantes”, mas que impactam diretamente o orçamento. Dentre os gastos fantasmas relacionados a veículos, cito alguns: estacionamentos (incluindo zonas azuis, shoppings, etc), multas, manutenções regulares do veículo (troca de óleo, troca de pneus, etc), necessidades de ir à oficina, IPVA, licenciamento, gasolina, risco de avarias, franquia no caso de necessidade de utilização do seguro, dentre vários outros gastos.
NECESSIDADE OU LUXO?
Acredite em mim: em muitos casos (repito, em MUITOS casos!), existe vida sem a necessidade de um carro!
Se o carro é necessário para que você ganhe dinheiro no seu trabalho ou para que consiga trabalhar em mais de um local em lugares distantes, pode ser fundamental ter um carro. Se o carro é usado apenas como vai e vem do trabalho, ou apenas nos finais de semana, pode vir a ser opcional.
Já vi várias situações em que a pessoa utilizava o veículo para trabalhar, mas gastava mais da metade do salário para manter o veículo, sem se dar conta disso, por nunca ter colocado na ponta do lápis todos os gastos fantasmas inclusos. Imagine que em casos assim, geralmente a pessoa tem na mente que ganha “tanto” de salário, e baseia seus gastos em cima dessa certeza de quanto ganha, mas na prática, ganha menos da metade do que pensa que ganha, pois a outra metade é absorvida pela manutenção do veículo.
Entenda que NÃO sou contra ter um carro. Sou sim, contra ter um carro sem PESAR as consequências desta decisão. Sou a favor de uma utilização consciente, e de uma análise imparcial e não tendenciosa, a respeito da necessidade ou não de ter um (ou mais) carros. Existem opções menos custosas e não menos confortáveis do que possuir um carro, como Taxis ou mesmo Uber e aplicativos semelhantes, dependendo do contexto de vida pessoal e familiar. Continuo em próximos textos!
Se desejar, faça suas considerações no espaço abaixo destinado a comentários! Coloque suas questões e dúvidas, que eu possa trabalhar em cima disso em próximos textos!
Grande abraço e que Deus nos abençoe!
Ronaldo Bella Sócio da Allux Investimentos Membro na Catedral Metodista de São Paulo