DEUS CONOSCO... SENTINDO, OU NÃO


Os índios cherokees têm uma lenda sobre o rito de passagem dos meninos da tribo. O pai leva o filho para a floresta no início da noite, venda-lhe os olhos e o deixa sozinho. O menino fica sentado no topo de uma montanha e não pode remover a venda até os primeiros raios de sol. Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem. E quando retornar não pode contar a experiência aos outros.
O garoto, naturalmente, fica amedrontado. Ele irá ouvir toda espécie de barulho. Os animais selvagens podem estar ao seu redor. Insetos e cobras podem picá-lo. Estará com frio, fome e sede, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda. Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem.
Finalmente, após uma noite angustiante, o sol aparece e a venda é removida. Ele então descobre o seu pai sentado na montanha perto dele. Ele esteve ali, o tempo todo, protegendo o seu filho.
Essa história nos faz lembrar uma verdade espiritual: a de que nunca estaremos sozinhos em meio aos nossos desafios, medos e angústias. Há inúmeras promessas neste sentido para nós. Jesus prometeu: “Eis que estarei convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt 28.20).
Ele fala em “estar”, mas nada disse acerca de “sentir” a Sua Presença em todos os momentos. “Todos os dias” significam dias fáceis, dias difíceis, dias alegres ou tristes, dias de doenças, exames, ou provas... Você irá perceber isso? Provavelmente não, visto que agora “andamos por fé e não pelo que vemos” (2Co 5.7).
Somente Naquele Dia, que Deus sabe qual é, enxergaremos todas as coisas, e tudo nos será revelado... Mas, agora, não! “Agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face” (1Co 13.12).
O “indiozinho” sentia o vento, as folhas, o medo, os uivos... e o sentimento de estar sozinho. Mas justamente aí, no auge da dúvida, o seu pai o observava, sem se manifestar: “Aguenta firme, estou cuidando de você!”.
Da janela de meu apartamento consigo vislumbrar toda a extensão de uma rua erma durante a madrugada. Às vezes percebo passos apressados, e imagino ali uma pessoa assustada e temerosa de algum mal à espreita na próxima esquina. Entretanto, de minha posição privilegiada, do alto, eu sei que ela está segura, mas.... não tenho como avisar-lhe: “Ei, amigo, vá tranquilo pelo caminho, está tudo bem...”.
O que fazer quando a sensação de sentir-se só em meio a tantos acontecimentos angustiantes? Confiar e orar como Davi: “Ainda que eu ande no vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo” (Sl 23.4).
Este vale não é um “lugar”, mas é aquele estado marcado pela mais completa incerteza, impotência e perplexidade... Não é geográfico, é existencial. Quem entra por ele, sabe que está em apuros. E só se sai dali acompanhado por quem conhece o caminho, ou seja: o mesmo Pastor que leva suas ovelhas aos “pastos verdejantes” é quem as acompanha na passagem pelo vale.
Mesmo quando não percebemos, Deus estará ali. Mas lembre-se: não há como “tirar a venda” antes do amanhecer...
Agora, tão somente creia, “porque Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo” (Is 41.13).
Sim, sei que Deus estará sempre perto, mesmo quando os meus olhos não conseguem Te ver. Daniel Rocha Pastor na IM Central em Santo André