UM CORRUPTO SE ENCONTRA COM JESUS

Leia Mateus 9: 9-13. Considerando que a passagem precedente ressalta a noção de que o perdão é o foco primário da missão de Jesus - v.9 -, a narrativa leva esse ponto adiante e usa o ministério de cura de Jesus como uma imagem de sua missão mais importante: reparar vidas corrompidas por pecado - v. 12. São os doentes, os deteriorados, os carentes, os desamparados e os de coração sensível que reconhecem a necessidade da ajuda de Deus.
Mateus nos mostra aqui que os reprovados, os imorais e socialmente desprezíveis às vezes se humilham mais facilmente do que os religiosos. É de se temer que passemos muito tempo tentando converter alguns iníquos resistentes nas igrejas, negligenciando os pecadores que têm medo de pôr os pés em uma congregação. É comum estes últimos desenvolverem menor resistência ao evangelho. Podem até estar fora precisamente por causa das palavras ou comportamento de hipócritas que se dizem crentes.
Jesus chama um corrupto para ser seu discípulo - Mateus 9:9. Os judeus na antiga Palestina tinham várias razões para não gostar de coletores de impostos. Primeiro, as aristocracias e outras elites locais se beneficiavam dessa cobrança de impostos. Em segundo lugar, até mesmo as autoridades tinham que tomar precauções para manter coletores de impostos sem sobrecarregar muito as pessoas, o que sugere que alguns desses funcionários públicos faziam exatamente isso. Além disso, quase todos os estudiosos concordam que os impostos eram exorbitantes, mesmo sem sobrecargas. Em algumas partes do Império Romano, a tributação era tão opressiva que os trabalhadores fugiam de suas terras, às vezes até o ponto em que vilarejos inteiros eram despovoados.
Os corruptos precisam ser confrontados com a Palavra e a Presença de Deus. O Brasil, por exemplo, foi formado em uma matriz cultural cujos eixos principais são a violência estrutural, a exclusão da maioria da população, o patrimonialismo e a corrupção, que se tornou endêmica. Para converter essa nação é necessário ampliar o anúncio profético do Reino de Deus e não se deixar confundir por sinais exteriores de riqueza como sinônimos de bênção. Talvez uma parcela muito maior do que imaginamos das pessoas em situação financeira mais favorecida tenha se beneficiado, em algum momento, de esquemas escusos para enriquecer.
Corrupção, impostos opressivos e um governo que não respeitava a justiça. Parece algo familiar para você? O gabinete de Mateus o teria tornado localmente proeminente, possivelmente como funcionário aduaneiro. Aos olhos dos fariseus - v. 11 -, comer com os pecadores implicava aprová-los. Em contraste, uma pessoa piedosa normalmente preferia conviver com eruditos judeus.
Infelizmente vemos líderes religiosos hoje em dia são coniventes com pecadores contumazes, especialmente se estes são de posição social proeminente – políticos, por exemplo - ou ricos. Mesmo que o dinheiro tenha surgido de forma inexplicável e suspeita. Enquanto isso, muitas igrejas estão envergonhadas de abraçar um viciado em drogas em recuperação ou uma prostituta que busca ajuda. Podem até mesmo serem reticentes em permitir que uma pessoa desempregada e empobrecida possa ocupar uma posição de liderança. Trata-se de definir o status pessoal de maneira não bíblica.
Os pecadores podem ouvir e seguir – Mateus 9: 9-10.
A imprevisibilidade das pessoas nos mantém dependentes do mandato de Deus, de compartilhar o reino com todos. Jesus, por sua vez, estava pronto para comer com pessoas com quem muitos de seus aparentemente piedosos contemporâneos não se associariam. Para Mateus, seguir Jesus significava deixar para trás uma profissão bem remunerada, mas mesmo esse arrependimento de alto custo financeiro não podia satisfazer a elite religiosa.
Sair da corrupção pede algum tipo de reparação à sociedade. Isso é parte da justiça, base para a paz. Pode ser um tempo na cadeia, uma delação que ajude a estancar a sangria dos cofres públicos ou a devolução de valores pecuniários. Pode ser tudo isso junto e ainda mais. A confrontação com a Palavra de Deus deve abrir portas para ir além da justiça humana, necessária, mas insuficiente. É preciso mudar a cultura do país.
As Escrituras Judaicas declararam que não se deve ter comunhão com os pecadores - Salmo 1: 1; Provérbios 13:20; 14:7; 28:7. Essa orientação era para evitar que o convívio prejudicasse o comportamento dos fiéis. Jesus come com pecadores, mas não se deixa influenciar, ao contrário, Ele usa a ocasião para influenciar a mudança de vida de quem o cerca. Não é, portanto, surpreendente que Ele tenha sido considerado escandaloso aos religiosos de então.
Numa cultura de honra e vergonha como o antigo Mediterrâneo, uma queixa pública como a que os fariseus emitiram constituiu um desafio. Uma rápida contenda diante de tal afronta não só silenciaria os acusadores, como também os envergonharia. Jesus constrange seus oponentes com a sabedoria tradicional e bíblica.
Os professores judeus frequentemente exortavam os ouvintes a "ir e achar", ou seja, procurar nas Escrituras exemplos, ou "ir e aprender", ou seja, entender o ponto de um determinado texto. Mas quando Jesus cita Oséias 6:6 sugere que seus interlocutores são ignorantes do cerne da Escritura. Oséias se dirigiu a um povo satisfeito com seus rituais, mas desagradável para Deus.
A resposta de Jesus teria sido suficientemente clara. Outros professores antigos também usavam a saúde como metáfora da integridade espiritual e moral, e da doença como uma metáfora para o vício ou a loucura, vendo-se como médicos da alma. Jesus veio chamar os pecadores, para convidá-los ao banquete final de Deus - Mateus 22: 3,14. A proeminência da misericórdia é tão crítica que se repete em Mateus 12:7 - ver também 23: 23.
O Brasil só conserta se a presença de Jesus Cristo se ampliar e os cristãos não se deixarem influenciar pela cultura da corrupção. Ao contrário, passarem a influenciar pela mudança de rumos em todas as esferas da vida, pela honestidade, justiça e equidade.
Luciano Sathler Professor de Escola Dominical Membro na IM Central em Santo André